domingo, 12 de julho de 2009

Espelho sem reflexo

Trancou-se no banheiro. Ela não tem um quarto para afogar as mágoas, seus filhos sim. Compartilha um cubículo com seu marido que acabara de chegar. Ela tem, eventualmente, o banheiro.
Sentou-se no vaso sanitário e deixou a angústia manifestar-se. Passou a perceber em sua volta o branco dos azulejos e a esperar uma solução súbita para tudo aquilo, "já fazem doze anos!". Ligou o chuveiro para ninguém a incomodar. Observou a água descer e correr na brusca correnteza que dá no ralo.
Um. Dois minutos.
Lembrou-se que existe o desperdício e desligou a válvula do chuveiro.
Voltou a sentar-se procurando não pensar, só focando insistentemente o branco que serve de espelho espiritual para si.
Seus olhos encheram-se de desperdícios.
Resolveu fechar sua válvula para não desperdiçar-se.
Alguém bateu na porta, acordou de súbito.
Querem usar o banheiro.
Não respondeu até a terceira chamada, após a insistência resolveu cessar e saiu sem usar o papel higiênico.