terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vermelho vapor

Me sinto vermelho rodando
no Sol do meio dia em cima de uma faixa de pedestres
O sinal ficou verde
Vai passar mas eu tô vermelho
O quê posso fazer além de deixarem me passar?
Pode atropelar
Hoje tô vermelho e feliz
Eu tô quente, eu tô vapor
E nem sinto mais dor

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu anjo grotesco para todo sempre


Tomava café da manhã enquanto minha avó comentava comigo eventualidades. Sentada na frente da TV, estava a rever algumas fotografias velhas que ficam guardadas em envelopes e porta-retratos que estão espalhados pela casa.
De repente, ela se levanta e me mostra uma foto, era de seu casamento. Linda a fotografia, ela parece um anjo enquanto recebe um beijo na testa de meu falecido avô. Então ela me diz que essa é especial e pede para eu analisar a foto. Já havia atentado para um indivíduo estranho atrás da cena celeste que tem o centro da foto.
Um homem com expressão de canastrão a olhar a cena foco. Vovó me contou que aquele homem certa vez disse que ia dar-lhe o primeiro beijo na boca que ela nunca deixara-lhe dar e que ele nunca deu. E ei-lo ali em seu casamento registrado naquela fotografia, a fitar a cena escancarada de sua promessa quebrada.



Pouco tempo depois estive concentrado em apreciar a pilha de fotos que já tinha revisto diversas vezes, quando passa na TV um comercial de aparelho para os dentes. Minha avó brinca dizendo que vai comprar para ela, em seguida ri mostrando sua dentadura. A imagem de anjo ao ver a fotografia de seu casamento ampliou-se e a imortalizou em minha mente como um anjo grotesco, reflexo de todo bicho gente. E tudo isso aconteceu há trinta minutos na memória.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rosas cegas

Sozinha no quarto com suas rosas flutuantes ela boceja esperando a luz.
As necessidades aumentam com os dias que passam, e as rosas sempre ali a murchar e a nascer junto a pensamentos e ciclos.
Dançando sozinha no escuro ela é guiada por aromas vermelhos.
Enquanto ela se perde na solidão do breu, existem morcegos que zombam de sua dança desengonçada, mas ela não se importa mais.
Dança, cai e re-dança sua insistente dança.
Às vezes, os risos entram rasgantes fazendo-a lembrar de algo que dói. Nada é definitivo.
Mas tudo bem, sempre dói, sempre vai doer até não mais pulsar.
.
..
.
De repente vê-se uma luz arrebatadora fazendo-a cegar e não ver o que nunca viu.
E agora? E agora?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quantos presentes são necessários para se chegar a um futuro sem passados explícitos?

Quantos presentes são necessários para se chegar a um futuro sem passados?
O passado não é efêmero
O passado vai e vem se confundindo com o presente
E o futuro até que ponto não será o presente do passado?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A porta que espera em pé

Bocejo no fundo da bolha olhando pra cima
Imagens embaçadas, vozes distorcidas
Empurro com força, empurro-me com força
Sempre respirando

Expiro e estou me respirando e me olhando
Quando me olham não me olham como me olho
Eu sou o que me olho ou o que olham quando me olham?

Vontade de não fazer alguma coisa
Eu faço demais e nada me resta além de fazer e não me reconhecer

Quando eu vou bater na minha porta? "Eles sabem, mas não me dizem!"

Eles, eles, eles, eles...