sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A crônica de um conto (person-ificado e que até anda pelas ruas sem andar) desimportante sobre a vida de Matheus

Esse som monocórdio poderia fazer Matheus debater-se no chão enquanto babasse saliva borbulhando.
Nada demais aconteceu, apenas o óbvio maduro. Matheus descobriu que o amor não existe. Confuso por entre visões recheadas de vida e realidades frias como o concreto, ele debate-se internamente, corroído e nada escondido atrás de suas vestes. Não havia dinheiro para óculos escuros que escondessem sua alma, e os antigos já não combinam com as vestes novas.
Matheus sofria, sentia doer, e doía mais pois estava só, sentia-se só mesmo rodeado de tantas palavras que não entravam pelas vias sensíveis, elas, para ele, eram só paroles, paroles et paroles.

Um dia ele pensou ter sido feliz, ou só foi, de qualquer forma, sentia-se assim naquele momento, então o era: feliz. Tudo estava em fina ordem até que os boatos com divulgação cibernética em relação ao fim do mundo realmente aconteceu. Não foi erro dos Maias, o mundo acabou e Matheus ficou só. Tentou, não hesitou, buscou mas não havia nada que o preenchesse mais. Ele ficou triste pois o que ou quem o fizera feliz agora não estava mais ali, ninguém de todos, nem poucos ou um, a palavra é a dita, sem necessidade de repetições, por favor.

Matheus (repetirei apenas esse nome próprio, sim?) não entendia o motivo de tanta incompreensão e como um clichê concretizado doía tanto, mas puta merda, era verdade que pra gente saber de amor (palavra que ainda o dá calafrios) havia a necessidade de comer quilos e quilos de sal com as pessoas em questão. Nunca o que havia comido fora sal, e sim açúcar, só agora Matheus (sim) consegue distinguir o paladar, seus sentidos, por ora, estão bem aguçados.

"O que o mundo tem contra mim?", grita no desânimo das articulações frágeis. Nada, eis a resposta para o tão insignificante Matheus, que de tão assim, não é digno da grafia escrita da palavra "nada", composta de duas consoantes e duas vogais iguais, com sua até bonita fonética organizada e cuja informação não vale nada, tal e qual nós, tal e qual o tempo, ou os teus olhos em cima dessa prosa, well. "E por quê?", ele queria saber de motivos para a incompreensão, a filha da putice, o tratamento rude, a queda, as cartas, a falta, a saudade, o cansaço, o sono infinito, o desânimo, a vontade, o descaso e inefáveis outras mais não ditas. Por quê? Por que a vida deixou de amar Matheus? Por que as pessoas não o compreendem mais devido o desvio, a queda? As pessoas quiçá apenas queriam sugar as forças do sono de Matheus e nada mais. O que mais o irrita são as pessoas e sua própria existência de pessoa, ele poderia ter sido um gato, uma orquídea ou um leptocephalus, mas não, uma pessoa! O quão irritantes são as pessoas com os julgamentos tão prévios e preconceituosos, e o quão irritante era Matheus por assim também ser, sendo ele pessoa.

Matheus cansa-se de digitar, pois seus ciclos não são fechados como o infinito, são abertos como a ferida em putrefação, como a condição de humano, como eu, o próprio Matheus.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Feio

Preso nessa casa, recebendo visitas com diferentes palavras me fazem ter material humano e (naturalmente, sem crueldade) descartável também.
Cores como raios, passam por entre as portas e eu estou no centro, observando e percebendo, sem ação, preso. Me curando sem ter previsão de alta.
Palavras de empatia me cruzaram, o "brilho" (palavra de consoantes predominantes tolas). Fui cruzado, parado, pela ideia de brilho perdido. Algo que nasce com e perde-se ao ir. Uma das únicas coisas pelas quais é possível culpar a vida, o acaso, pela perda. As pessoas te tiram o brilho, te apagam na (des)vontade de possuir.
A desproteção do egoísmo, o senso não ensinado de "não", a tolice de aceitar regras estabelecidas por tubos transeuntes que não passam sem pisar em ti.
Tenham cuidado, o "não" não (nos) ensinado faz com que a eterna auto-moderação seja aflorada no não alheio, e assim esvai-se o brilho. A vontade, o impulso, a vitalidade se esvai com os dias, levando a possibilidade de volta para si em uma centelha. À espera do gesto, do arrebatamento.
À espera da centelha do acaso.
Protejo os restos de mim, esses ninguém mais os levará, eu vou me alcançar de novo até não haver mais limites e, só assim, repetirei o "feliz" e a sequência que sucede. Em eternos ciclos, movimentos repetidos mas bonitos e novos.
Faz parte do cronograma.
Não está sendo fácil (quem disse?), está sendo péssimo. Vai ser melhor.
É melhor pensar assim ou nem pensar mesmo.