Esse som monocórdio poderia fazer Matheus debater-se no chão enquanto babasse saliva borbulhando.
Nada demais aconteceu, apenas o óbvio maduro. Matheus descobriu que o amor não existe. Confuso por entre visões recheadas de vida e realidades frias como o concreto, ele debate-se internamente, corroído e nada escondido atrás de suas vestes. Não havia dinheiro para óculos escuros que escondessem sua alma, e os antigos já não combinam com as vestes novas.
Matheus sofria, sentia doer, e doía mais pois estava só, sentia-se só mesmo rodeado de tantas palavras que não entravam pelas vias sensíveis, elas, para ele, eram só paroles, paroles et paroles.
Um dia ele pensou ter sido feliz, ou só foi, de qualquer forma, sentia-se assim naquele momento, então o era: feliz. Tudo estava em fina ordem até que os boatos com divulgação cibernética em relação ao fim do mundo realmente aconteceu. Não foi erro dos Maias, o mundo acabou e Matheus ficou só. Tentou, não hesitou, buscou mas não havia nada que o preenchesse mais. Ele ficou triste pois o que ou quem o fizera feliz agora não estava mais ali, ninguém de todos, nem poucos ou um, a palavra é a dita, sem necessidade de repetições, por favor.
Matheus (repetirei apenas esse nome próprio, sim?) não entendia o motivo de tanta incompreensão e como um clichê concretizado doía tanto, mas puta merda, era verdade que pra gente saber de amor (palavra que ainda o dá calafrios) havia a necessidade de comer quilos e quilos de sal com as pessoas em questão. Nunca o que havia comido fora sal, e sim açúcar, só agora Matheus (sim) consegue distinguir o paladar, seus sentidos, por ora, estão bem aguçados.
"O que o mundo tem contra mim?", grita no desânimo das articulações frágeis. Nada, eis a resposta para o tão insignificante Matheus, que de tão assim, não é digno da grafia escrita da palavra "nada", composta de duas consoantes e duas vogais iguais, com sua até bonita fonética organizada e cuja informação não vale nada, tal e qual nós, tal e qual o tempo, ou os teus olhos em cima dessa prosa, well. "E por quê?", ele queria saber de motivos para a incompreensão, a filha da putice, o tratamento rude, a queda, as cartas, a falta, a saudade, o cansaço, o sono infinito, o desânimo, a vontade, o descaso e inefáveis outras mais não ditas. Por quê? Por que a vida deixou de amar Matheus? Por que as pessoas não o compreendem mais devido o desvio, a queda? As pessoas quiçá apenas queriam sugar as forças do sono de Matheus e nada mais. O que mais o irrita são as pessoas e sua própria existência de pessoa, ele poderia ter sido um gato, uma orquídea ou um leptocephalus, mas não, uma pessoa! O quão irritantes são as pessoas com os julgamentos tão prévios e preconceituosos, e o quão irritante era Matheus por assim também ser, sendo ele pessoa.
Matheus cansa-se de digitar, pois seus ciclos não são fechados como o infinito, são abertos como a ferida em putrefação, como a condição de humano, como eu, o próprio Matheus.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Feio
Preso nessa casa, recebendo visitas com diferentes palavras me fazem ter material humano e (naturalmente, sem crueldade) descartável também.
Cores como raios, passam por entre as portas e eu estou no centro, observando e percebendo, sem ação, preso. Me curando sem ter previsão de alta.
Palavras de empatia me cruzaram, o "brilho" (palavra de consoantes predominantes tolas). Fui cruzado, parado, pela ideia de brilho perdido. Algo que nasce com e perde-se ao ir. Uma das únicas coisas pelas quais é possível culpar a vida, o acaso, pela perda. As pessoas te tiram o brilho, te apagam na (des)vontade de possuir.
A desproteção do egoísmo, o senso não ensinado de "não", a tolice de aceitar regras estabelecidas por tubos transeuntes que não passam sem pisar em ti.
Tenham cuidado, o "não" não (nos) ensinado faz com que a eterna auto-moderação seja aflorada no não alheio, e assim esvai-se o brilho. A vontade, o impulso, a vitalidade se esvai com os dias, levando a possibilidade de volta para si em uma centelha. À espera do gesto, do arrebatamento.
À espera da centelha do acaso.
Protejo os restos de mim, esses ninguém mais os levará, eu vou me alcançar de novo até não haver mais limites e, só assim, repetirei o "feliz" e a sequência que sucede. Em eternos ciclos, movimentos repetidos mas bonitos e novos.
Faz parte do cronograma.
Não está sendo fácil (quem disse?), está sendo péssimo. Vai ser melhor.
É melhor pensar assim ou nem pensar mesmo.
Cores como raios, passam por entre as portas e eu estou no centro, observando e percebendo, sem ação, preso. Me curando sem ter previsão de alta.
Palavras de empatia me cruzaram, o "brilho" (palavra de consoantes predominantes tolas). Fui cruzado, parado, pela ideia de brilho perdido. Algo que nasce com e perde-se ao ir. Uma das únicas coisas pelas quais é possível culpar a vida, o acaso, pela perda. As pessoas te tiram o brilho, te apagam na (des)vontade de possuir.
A desproteção do egoísmo, o senso não ensinado de "não", a tolice de aceitar regras estabelecidas por tubos transeuntes que não passam sem pisar em ti.
Tenham cuidado, o "não" não (nos) ensinado faz com que a eterna auto-moderação seja aflorada no não alheio, e assim esvai-se o brilho. A vontade, o impulso, a vitalidade se esvai com os dias, levando a possibilidade de volta para si em uma centelha. À espera do gesto, do arrebatamento.
À espera da centelha do acaso.
Protejo os restos de mim, esses ninguém mais os levará, eu vou me alcançar de novo até não haver mais limites e, só assim, repetirei o "feliz" e a sequência que sucede. Em eternos ciclos, movimentos repetidos mas bonitos e novos.
Faz parte do cronograma.
Não está sendo fácil (quem disse?), está sendo péssimo. Vai ser melhor.
É melhor pensar assim ou nem pensar mesmo.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
O desarrependimento sóbrio
Silêncio
e mais nada
Nada se pode dizer ou ouvir além do silêncio
Alguém sempre tem o que dizer pelo canto da boca
Beirando a leve experiência que saliva pouco
Silêncio
Saber-se dói
Encarar a vida de frente, os fatos concretos são o que mais me enche do incerto
Deitar, dormir no silêncio, seria cômodo
Como fios conectados sugando tudo, cada órgão, cada recheio
lento
O grito
A centelha
O recomeço
O nariz pra cima e a sustentação do day by day
(meu cabelo sempre é novo quando alguma coisa apodrece)
A necessidade do silêncio
da angústia fina que corre no monocórdio parecendo ser infinito
Mas se nem a vida própria e concreta da carne é, por quê seria?
Por quê não seria?
As incertezas do shiii, do tempo
Os limiares das pertubações
A reverberação do não e as consequências
Colocar-se um fim
da necessidade, novamente
É isso, mas não há lei
Eu perdi mais do que tu, acreditas
Eu perdi ao me permitir
mas se perde
mas se perderá
mas se
Fim
.
e mais nada
Nada se pode dizer ou ouvir além do silêncio
Alguém sempre tem o que dizer pelo canto da boca
Beirando a leve experiência que saliva pouco
Silêncio
Saber-se dói
Encarar a vida de frente, os fatos concretos são o que mais me enche do incerto
Deitar, dormir no silêncio, seria cômodo
Como fios conectados sugando tudo, cada órgão, cada recheio
lento
O grito
A centelha
O recomeço
O nariz pra cima e a sustentação do day by day
(meu cabelo sempre é novo quando alguma coisa apodrece)
A necessidade do silêncio
da angústia fina que corre no monocórdio parecendo ser infinito
Mas se nem a vida própria e concreta da carne é, por quê seria?
Por quê não seria?
As incertezas do shiii, do tempo
Os limiares das pertubações
A reverberação do não e as consequências
Colocar-se um fim
da necessidade, novamente
É isso, mas não há lei
Eu perdi mais do que tu, acreditas
Eu perdi ao me permitir
mas se perde
mas se perderá
mas se
Fim
.
domingo, 18 de novembro de 2012
Você nunca escolherá bem o seu amor
Quem você é e em quais circunstâncias?
(até onde você pode suportar?)
Quem existe dentro de você?
No entremeio do outro, você transforma-se no anti
Você vê mas não
Mas quer
e por quê?
Errado de certos sentimentos
Vontades com razões no descontentamento do querer
Fui e volto por você
Mas por quê?
O amor é a pior coisa anti-si
É a pior auto-estima vide outro por
É o ir e parar quando não
Quando barra nas zi-trilhões da imensão
É a necessidade não e sim parada
(eu não quero mais o amor)
Cansado
(nenhum de ti no plural)
A voz do vai-e-vem do entremeio sem dor de barriga
O olhar esquerdo do gume que corta em dois
O amor nasce e desaparece no estômago
E não se vai em uma descarga
Ele fica no caminho único da vida que dá na morte (e é o único)
Escolha bem o seu amor
A vontade de compreensão
A louça lascada
O silêncio do não
Tudo faz falta na ausência em vão
Escolha bem o seu amor
até aonde o destino te permitir
Vai e esvair
Sem mais ou menos
A vida pode ser um eterno descontentamento de um minuto
Escolha bem o seu amor
(até onde você pode suportar?)
Quem existe dentro de você?
No entremeio do outro, você transforma-se no anti
Você vê mas não
Mas quer
e por quê?
Errado de certos sentimentos
Vontades com razões no descontentamento do querer
Fui e volto por você
Mas por quê?
O amor é a pior coisa anti-si
É a pior auto-estima vide outro por
É o ir e parar quando não
Quando barra nas zi-trilhões da imensão
É a necessidade não e sim parada
(eu não quero mais o amor)
Cansado
(nenhum de ti no plural)
A voz do vai-e-vem do entremeio sem dor de barriga
O olhar esquerdo do gume que corta em dois
O amor nasce e desaparece no estômago
E não se vai em uma descarga
Ele fica no caminho único da vida que dá na morte (e é o único)
Escolha bem o seu amor
A vontade de compreensão
A louça lascada
O silêncio do não
Tudo faz falta na ausência em vão
Escolha bem o seu amor
até aonde o destino te permitir
Vai e esvair
Sem mais ou menos
A vida pode ser um eterno descontentamento de um minuto
Escolha bem o seu amor
sábado, 18 de agosto de 2012
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Como não ser rude em um único passo
Quando o outro não vê o que você ver, quando o reconhecimento da dúvida do fato acontece nos nós. Dentro de nós, na relação que externaliza, que afeta, que interfere, que nos é necessário ver.
Como ver sem conseguir ver?
Como compreender?
Como deslimitar a própria paciência?
Como não ser rude?
De onde nascem os limites e como eles se deslimitam a crescer?
Aonde a paciência é estipulada? Quando as ponderações aparecem para que eu dose as coisas de uma forma mais clara, de forma que o amor seja melhor distribuído nas cobranças do que não se pode mais cobrar sem dar?
Pensar em nós quando o nó é na visão alheia. O pedido engasga no ouvido, a vontade de gritar transborda em silêncio na garganta do ṕensamento.
Ponderações de amor e a dor que me causam.
Eu faço se fizerem por mim. Não é egoísmo, é só vontade de ter, e se cobram a nós, que tenham-se a dois.
Aprendi sem organificar que não ser rude é dizer desviando, beirando o calado. Ainda não consegui mas aprendi a só não dizer, sem beirar.
O primeiro passo é tolerar, preciso descobrir se é o primeiro ou o único.
Como ver sem conseguir ver?
Como compreender?
Como deslimitar a própria paciência?
Como não ser rude?
De onde nascem os limites e como eles se deslimitam a crescer?
Aonde a paciência é estipulada? Quando as ponderações aparecem para que eu dose as coisas de uma forma mais clara, de forma que o amor seja melhor distribuído nas cobranças do que não se pode mais cobrar sem dar?
Pensar em nós quando o nó é na visão alheia. O pedido engasga no ouvido, a vontade de gritar transborda em silêncio na garganta do ṕensamento.
Ponderações de amor e a dor que me causam.
Eu faço se fizerem por mim. Não é egoísmo, é só vontade de ter, e se cobram a nós, que tenham-se a dois.
Aprendi sem organificar que não ser rude é dizer desviando, beirando o calado. Ainda não consegui mas aprendi a só não dizer, sem beirar.
O primeiro passo é tolerar, preciso descobrir se é o primeiro ou o único.
domingo, 17 de junho de 2012
Quando tenho medo, só durmo depois das três
Calma, é só a leve dor da dor que ainda se instaura
Mas vai passar
Vai passar para vir e passar novamente
A mentira da certeza é levemente dormente para ontem
Ainda uso meias cor de rosa e elas aparecem quando apresso o passo
O compasso dos suspiros são teus de mim, são nossos
Como nunca vi outrora mas hoje conjugo o posso
Posso sempre mais em alongamentos de gestos desdobráveis
Em pedaços que se unem e se afastam com a vida desmedida
A verdade é que a carne moída só vai ficando mais macia até apodrecer
Apodrecimento suculento que os vermes salivam e tardam, depende de como você vê
O amor e a dor espaçam, rodam o espaço em perpendicular com a queda
Mas vai passar
Vai passar para vir e passar novamente
A mentira da certeza é levemente dormente para ontem
Ainda uso meias cor de rosa e elas aparecem quando apresso o passo
O compasso dos suspiros são teus de mim, são nossos
Como nunca vi outrora mas hoje conjugo o posso
Posso sempre mais em alongamentos de gestos desdobráveis
Em pedaços que se unem e se afastam com a vida desmedida
A verdade é que a carne moída só vai ficando mais macia até apodrecer
Apodrecimento suculento que os vermes salivam e tardam, depende de como você vê
O amor e a dor espaçam, rodam o espaço em perpendicular com a queda
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Eu não encontro o chão da rota no escuro
Você não vê meus olhos desfirmes
Meu olhar perigoso que não teme a morte
Você não vê minha barriga vazia
Minha barriga preenchida de ar, de vazio
Meus pés que cambaleiam, que não andam
Você não vê quando eu sou o mais prejudicado pelas consequências de teus prejuízos
No vazio da minha barriga é onde eu fico com o prejuízo
E fico só
Você sabe entender "tudo bem" quando diz as verdades de si
Eu sei sofrer as tuas verdades sozinhas de mim
E eu preciso entender, eu preciso me entender, e quem diabos é eu?
Isso é injusto, isso são demônios, me deixar com os demônios que não existiram para me criar
O diabo do eu acha que não é bem assim
Há desvios
Aonde estão meus entrevios?
Há uma raiz propícia no vazio dos meus ventos
Ela nasce no escuro que você permitiu enquanto não alegava nada, enquanto disse que era isso e minhas opções vinham de Pandora
Esperanças vazias
O amor é mais e vem do menos que você pediu
O amor não pede esperança com palavras uniformes, monocórdias
E na minha espera só existiu ânsia
Estou perdido na minha noite
A minha raiz nasce no escuro
Aonde eu vou estar amanhã?
Eu estou quebrado e você me pede mais
Eu não sei o que mereço, mas não é isso o que mereço
Eu estou quebrado e você não faz cessar, você me pede mais
Aonde eu vou parar nesse escuro?
Você parece não se importar com meu escuro, onde não consigo mais me enxergar
Eu só consigo te ver
E poderia ser assim se você me visse além de um escuro, mas para ti é tudo mais claro
Aonde eu vou parar?
Tu me deixaste assim
Tu levaste minha luz
Meu olhar perigoso que não teme a morte
Você não vê minha barriga vazia
Minha barriga preenchida de ar, de vazio
Meus pés que cambaleiam, que não andam
Você não vê quando eu sou o mais prejudicado pelas consequências de teus prejuízos
No vazio da minha barriga é onde eu fico com o prejuízo
E fico só
Você sabe entender "tudo bem" quando diz as verdades de si
Eu sei sofrer as tuas verdades sozinhas de mim
E eu preciso entender, eu preciso me entender, e quem diabos é eu?
Isso é injusto, isso são demônios, me deixar com os demônios que não existiram para me criar
O diabo do eu acha que não é bem assim
Há desvios
Aonde estão meus entrevios?
Há uma raiz propícia no vazio dos meus ventos
Ela nasce no escuro que você permitiu enquanto não alegava nada, enquanto disse que era isso e minhas opções vinham de Pandora
Esperanças vazias
O amor é mais e vem do menos que você pediu
O amor não pede esperança com palavras uniformes, monocórdias
E na minha espera só existiu ânsia
Estou perdido na minha noite
A minha raiz nasce no escuro
Aonde eu vou estar amanhã?
Eu estou quebrado e você me pede mais
Eu não sei o que mereço, mas não é isso o que mereço
Eu estou quebrado e você não faz cessar, você me pede mais
Aonde eu vou parar nesse escuro?
Você parece não se importar com meu escuro, onde não consigo mais me enxergar
Eu só consigo te ver
E poderia ser assim se você me visse além de um escuro, mas para ti é tudo mais claro
Aonde eu vou parar?
Tu me deixaste assim
Tu levaste minha luz
segunda-feira, 14 de maio de 2012
01:35
Quando Eles falam para eu ser forte
Quando a gastrite me cruza, a hérnia me dói
O cansaço me estremece
Só assim os olhos umedecem para não o fazerem mais
O limite atingido, o rasgo indefinido
A coisa formada
A dor alcançada
A vontade de ser fraco como nunca, como o sempre somado
Ainda hei de deitar e não mais me levantar
Quando esse dia chegar, nada façam
Nada vai adiantar
Quando a gastrite me cruza, a hérnia me dói
O cansaço me estremece
Só assim os olhos umedecem para não o fazerem mais
O limite atingido, o rasgo indefinido
A coisa formada
A dor alcançada
A vontade de ser fraco como nunca, como o sempre somado
Ainda hei de deitar e não mais me levantar
Quando esse dia chegar, nada façam
Nada vai adiantar
domingo, 22 de abril de 2012
Seis de nós
Os perfumes que passei pra você
Os óleos, os cheiros que você diz preferir o meu natural
Os frascos secos, as gavetas abertas
Os sorrisos e a ausência deles
Os propósitos a teu propósito
As roupas escolhidas que você diz não gostar
A flacidez que você diz não se importar
Os dias que vão e deixam faltas
Os que virão, a espera e a ânsia
A birra do cigarro
Os tapa olhos
O medo dos olhos que poderiam apenas nos olhar
Fechar, esconder em algum lugar confortável
Só eu, você e alguns travesseiros
Fragilidade
Tudo arrancado, rasgado
Coisas que já foram, coisas que vêm diferentes
O líquido nos rodeia, mas nós somos de carnes e cores
Brota da terra o que eu quero
Beija minhas unhas e me leva daqui nos teus olhos
Eu juro escovar os dentes entre uma fumaça e outra
Qualquer outro lugar deve ser lindo, mas não como o nosso
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Delay
A agressividade acompanha a fragilidade
Os gritos transpassados de silêncios
Os ecos de momentos estragados
O rasgo no presente extraviado
A dor que dói na calma do costume
A vida que pede a morte para ficar imune
sábado, 31 de março de 2012
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Des-culpa
Me pergunto se a minha boca amarga de tanta fumaça, disfarçada entre drops de poucas calorias, ainda te passa o fervor da minha saliva quase seca. Não é possível que tudo o que eu tenha a dizer não seja passado entre meus olhos mórbidos, não é possível que alguém não veja.
Eu já cansei de falar, as palavras realmente já não me bastam.
Não é possível que ninguém me compreenda.
Não é possível que não acreditem no meu cansaço, eu preciso que acreditem comigo. Acreditar o sentimento sozinho é tão triste, o peito dói no silêncio cansado.
Já não sei o que me satisfaz, as palavras tropeçadas, mal ditas, me desdizem. Eu sou o que quero ser, não o que mostro ser.
Puta vida que me pariu, precisava de tudo isso? Eu queria comer quietinho, sentado, controlado com desmedidas muitas. Acho que não tem como voltar ou parar, de tanta inexatidão, enlouqueço sem parar, e continuo, mesmo sem alguém me aguentando (nem eu mesmo), parado. Não me canso de dizer, repito o já dito, corro parando a 350 km/h.
Qualquer decepção me é fatal, me tomba, me concretiza no chão frio, no cimento batido. Sem as culpas, sem os dedos, eu só me culpo, e abraço um mundo de julgamentos que me voltam. Não posso mais abraçar as culpas alheias que evito, mas não posso culpar ninguém. Viver dói e não quero aumentar a dor de ninguém, e nessas evitações me dói a garganta. Meu esôfago poderia estourar, ao menos é o meu, se eu voltasse a me vomitar.
Eu só preciso desacelerar, parar comigo, cuspir o escarro e engolir a saliva transparente.
Isso aqui é meu mural de dores. Gostaria de descobrir coisas que não precisem da dor para acontecer. Finalizo essa qualquer coisa sem saber o motivo do começo ou do fim, só preciso dormir. Me desculpem, de tantas auto-culpas eu só preciso me desculpar.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
O amor é você em mim
O amor quando você o vê de frente. Não exatamente na sua frente, mas na sua frente consigo. O amor não precisa ser mútuo, mas sente-se quando o é. Sente-se quando tenta-se ser puro, e sensato é quem pondera na peneira da paciência as coisas que ele traz consigo, as coisas da vida que ficam embaralhadas em um balaio e condensadas em si, em cada um, no resultado homogêneo das horas.
Amar é permitir-se começar, é aceitar a vida no outro e ter a calma de não esperar a resposta, quando essa vem há o suplemento, o mútuo que pode ser visivelmente simples, porém ter o poder do invisível de um olhar.
O amor é sentir-se infantil, é começar pelo outro que já começou, é ser de novo, e, principalmente, aceitar a vida.
Amar é ter amor à vida para recomeçar sem se importar com o acaso. É ser Pandora e não abandonar a esperança que resta na caixa, e tê-la como início, mesmo que seja um fim, e o é. O começo e o fim são o mesmo e se anulam no mesmo tempo de recitar seus ínfimos fonemas.
O amor é você em mim e eu em você, a cada encontro infantil com conclusões que não chegam a finalidade alguma, só ao acaso dos nossos olhos infantis, tão doces quanto humanos assustados, olhando para o mundo preenchido de possibilidades.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A receita dos sonhos
À padaria, escutou o pedido, quase uma súplica de um menino mais velho, com imaginados oito anos:
- Um sonho, por favor.
E tão prontamente, segundos depois, lá estava um saco de papel contendo o pedido. Assustado, confuso, achou que fosse a solução para as noites que passara sem sonhar, já havia perguntado à sua mãe o motivo de sua mórbidas e escuras noites sem imagens (não com essas palavras, é claro), mas ali estava o sonho!
- Sonh... quanto custa o sonho?
- Um real, meu bem
Assustado, comprou com seu dinheiro, havia dinheiro, o que guardara do lanche do intervalo do dia anterior. Comprou dois sonhos.
- Dois.
- Quais os sabores?
- Sabor?
- Sim.
- Os melhores, por favor.
Rindo, a vendedora entrara em alguma passagem pela cortina de chita da padaria de bairro e trouxera, em dois saquinhos de papel, dois sonhos, os melhores.
Apesar da curiosidade, não abrira as embalagens ali, os levou para casa, e após escutar sem escutar as reclamações maternas de ter esquecido os quatro carioquinhas e dois sovados, entrara em seu quarto sem sem importar que sua mãe mesmo iria, e que ele ficaria sem sobremesa, mas não importa, ali, escondidos na mochila, haviam dois sonhos.
Enfim, trancou-se, fechou parte das cortinas, deixando passar pouca luz, e, no pequeno ritual, pegou avulsamente um dos sacos com cuidadosa curiosidade, o abriu sem olhar, colocou uma mão dentro e apalpou o sonho arredondado. Aos poucos sentiu a textura pastosa de seu centro, e, ainda de olhos fechados, o cheirou.
- O sonho parece de comer.
Sem pensar ou olhar, como um bicho, o mordeu e gostou. Em instantânea crescente curiosidade do sabor por completo, abocanhou em menos de um minuto seu primeiro sonho, lambeu os dedos e deitou ali mesmo de barriga pra cima. Ficou a ver imagens com os olhos fechados, a sentir o sabor do sonho, a sonhar. Já não sabia mais se estava dormindo ou acordado, mas sonhava com o açúcar na boca.
Não pôde se conter e viu o segundo sonho na sua sobremesa secreta após o jantar. Ele era lindo e, sim, de comer, indiscutivelmente havia açúcar ali.
- Existem sonhos maus aqui?
Perguntou no dia seguinte à vendedora da padaria, essa, adorando a interação com o magro menino de olhos negros e vivos, respondeu:
- Não, só trabalhamos com sonhos lindos!
E assim passaram os dias, alguns com ápices de quatro sonhos, quando a mãe, que não tinha tempo para fazer seu lanche, dava quatro reais e recomendações à professora que só o deixasse comprar coisas saudáveis. "Sim", eram os resumos do magistério, esquecimentos eram as respostas do atarefamento com as outras crianças.
Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia mais distante de seus poucos anos, não na cronologia, mas nos seus silêncios compartilhados das faltas maternas. O sonho recompensava o abraço que faltava, dois ou três sonhos recompensavam um beijo, e assim ele ia mantendo-se feliz e preenchido de motivos.
Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia maior, mas sua mãe não percebia. Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia mais tonto de tanta felicidade, até o dia que ele ficou tão feliz e tonteante que caiu, comera onze sonhos em trinta minutos com o dinheiro que conseguira do pote na cozinha que sua mãe guardava os trocos, comera e sorrindo caiu enquanto sua glicose subiu. Sozinho em casa, o menino ria, gargalhava, enquanto repetia:
- De quê esses sonhos são feitos? De quê esses sonhos são feitos? De quê além do açúcar?
- Um sonho, por favor.
E tão prontamente, segundos depois, lá estava um saco de papel contendo o pedido. Assustado, confuso, achou que fosse a solução para as noites que passara sem sonhar, já havia perguntado à sua mãe o motivo de sua mórbidas e escuras noites sem imagens (não com essas palavras, é claro), mas ali estava o sonho!
- Sonh... quanto custa o sonho?
- Um real, meu bem
Assustado, comprou com seu dinheiro, havia dinheiro, o que guardara do lanche do intervalo do dia anterior. Comprou dois sonhos.
- Dois.
- Quais os sabores?
- Sabor?
- Sim.
- Os melhores, por favor.
Rindo, a vendedora entrara em alguma passagem pela cortina de chita da padaria de bairro e trouxera, em dois saquinhos de papel, dois sonhos, os melhores.
Apesar da curiosidade, não abrira as embalagens ali, os levou para casa, e após escutar sem escutar as reclamações maternas de ter esquecido os quatro carioquinhas e dois sovados, entrara em seu quarto sem sem importar que sua mãe mesmo iria, e que ele ficaria sem sobremesa, mas não importa, ali, escondidos na mochila, haviam dois sonhos.
Enfim, trancou-se, fechou parte das cortinas, deixando passar pouca luz, e, no pequeno ritual, pegou avulsamente um dos sacos com cuidadosa curiosidade, o abriu sem olhar, colocou uma mão dentro e apalpou o sonho arredondado. Aos poucos sentiu a textura pastosa de seu centro, e, ainda de olhos fechados, o cheirou.
- O sonho parece de comer.
Sem pensar ou olhar, como um bicho, o mordeu e gostou. Em instantânea crescente curiosidade do sabor por completo, abocanhou em menos de um minuto seu primeiro sonho, lambeu os dedos e deitou ali mesmo de barriga pra cima. Ficou a ver imagens com os olhos fechados, a sentir o sabor do sonho, a sonhar. Já não sabia mais se estava dormindo ou acordado, mas sonhava com o açúcar na boca.
Não pôde se conter e viu o segundo sonho na sua sobremesa secreta após o jantar. Ele era lindo e, sim, de comer, indiscutivelmente havia açúcar ali.
- Existem sonhos maus aqui?
Perguntou no dia seguinte à vendedora da padaria, essa, adorando a interação com o magro menino de olhos negros e vivos, respondeu:
- Não, só trabalhamos com sonhos lindos!
E assim passaram os dias, alguns com ápices de quatro sonhos, quando a mãe, que não tinha tempo para fazer seu lanche, dava quatro reais e recomendações à professora que só o deixasse comprar coisas saudáveis. "Sim", eram os resumos do magistério, esquecimentos eram as respostas do atarefamento com as outras crianças.
Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia mais distante de seus poucos anos, não na cronologia, mas nos seus silêncios compartilhados das faltas maternas. O sonho recompensava o abraço que faltava, dois ou três sonhos recompensavam um beijo, e assim ele ia mantendo-se feliz e preenchido de motivos.
Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia maior, mas sua mãe não percebia. Ele estava enchendo-se de sonhos e ficando cada dia mais tonto de tanta felicidade, até o dia que ele ficou tão feliz e tonteante que caiu, comera onze sonhos em trinta minutos com o dinheiro que conseguira do pote na cozinha que sua mãe guardava os trocos, comera e sorrindo caiu enquanto sua glicose subiu. Sozinho em casa, o menino ria, gargalhava, enquanto repetia:
- De quê esses sonhos são feitos? De quê esses sonhos são feitos? De quê além do açúcar?
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