quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cores que te dei ou que te quero dar

Já sinto tua falta.
É como se o teu cheiro tivesse ficado nos cantos, nas extremidades dos cômodos de minh'alma. Teu cheiro é bom, me lembra um pouco da chuva e de melões maduros prontos para degustação.
Feliz seja, com ou sem meu lirismo exagerado, porém teu e franco.
Não me importa o que quiseres fazer, serei um pouco teu.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

E depois?

O céu tá quieto, não sei se vai chover ou se vai abrir
Essa tensão me deixa alerta
Um sorriso vem em minha direção
Quem é ele que vem rindo como se me conhecesse há muito tempo?
Ninguém vai fazê-lo parar?
Ninguém tá vendo que eu não aguento mais de medo?
Tenho medo mas é bom
Mas e aí?
Como que o céu vai estar amanhã e depois e depois e depois...?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vermelho vapor

Me sinto vermelho rodando
no Sol do meio dia em cima de uma faixa de pedestres
O sinal ficou verde
Vai passar mas eu tô vermelho
O quê posso fazer além de deixarem me passar?
Pode atropelar
Hoje tô vermelho e feliz
Eu tô quente, eu tô vapor
E nem sinto mais dor

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu anjo grotesco para todo sempre


Tomava café da manhã enquanto minha avó comentava comigo eventualidades. Sentada na frente da TV, estava a rever algumas fotografias velhas que ficam guardadas em envelopes e porta-retratos que estão espalhados pela casa.
De repente, ela se levanta e me mostra uma foto, era de seu casamento. Linda a fotografia, ela parece um anjo enquanto recebe um beijo na testa de meu falecido avô. Então ela me diz que essa é especial e pede para eu analisar a foto. Já havia atentado para um indivíduo estranho atrás da cena celeste que tem o centro da foto.
Um homem com expressão de canastrão a olhar a cena foco. Vovó me contou que aquele homem certa vez disse que ia dar-lhe o primeiro beijo na boca que ela nunca deixara-lhe dar e que ele nunca deu. E ei-lo ali em seu casamento registrado naquela fotografia, a fitar a cena escancarada de sua promessa quebrada.



Pouco tempo depois estive concentrado em apreciar a pilha de fotos que já tinha revisto diversas vezes, quando passa na TV um comercial de aparelho para os dentes. Minha avó brinca dizendo que vai comprar para ela, em seguida ri mostrando sua dentadura. A imagem de anjo ao ver a fotografia de seu casamento ampliou-se e a imortalizou em minha mente como um anjo grotesco, reflexo de todo bicho gente. E tudo isso aconteceu há trinta minutos na memória.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rosas cegas

Sozinha no quarto com suas rosas flutuantes ela boceja esperando a luz.
As necessidades aumentam com os dias que passam, e as rosas sempre ali a murchar e a nascer junto a pensamentos e ciclos.
Dançando sozinha no escuro ela é guiada por aromas vermelhos.
Enquanto ela se perde na solidão do breu, existem morcegos que zombam de sua dança desengonçada, mas ela não se importa mais.
Dança, cai e re-dança sua insistente dança.
Às vezes, os risos entram rasgantes fazendo-a lembrar de algo que dói. Nada é definitivo.
Mas tudo bem, sempre dói, sempre vai doer até não mais pulsar.
.
..
.
De repente vê-se uma luz arrebatadora fazendo-a cegar e não ver o que nunca viu.
E agora? E agora?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quantos presentes são necessários para se chegar a um futuro sem passados explícitos?

Quantos presentes são necessários para se chegar a um futuro sem passados?
O passado não é efêmero
O passado vai e vem se confundindo com o presente
E o futuro até que ponto não será o presente do passado?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A porta que espera em pé

Bocejo no fundo da bolha olhando pra cima
Imagens embaçadas, vozes distorcidas
Empurro com força, empurro-me com força
Sempre respirando

Expiro e estou me respirando e me olhando
Quando me olham não me olham como me olho
Eu sou o que me olho ou o que olham quando me olham?

Vontade de não fazer alguma coisa
Eu faço demais e nada me resta além de fazer e não me reconhecer

Quando eu vou bater na minha porta? "Eles sabem, mas não me dizem!"

Eles, eles, eles, eles...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Oi, tudo bem?"

Sinto teu cheiro que nunca senti
Sinto teu cangote, teu sorriso, teus dedos...
Sinto teu olhar calado
Sinto teu mistério

Ninguém deveria olhar alguém como você me olha
Me apavoro com a doce infelicidade
Me iludo a prestações sem saber quando terei forças para quitar a dívida com o tempo
Me deixa em paz com o vento

Não faz assim
Eu já cansei de conversar comigo sobre você
Tenho medo, meu mal é a vergonha

Você me sente?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pulsando em silêncio

Suas palavras entraram cortando aqueles ouvidos muito bem limpos com cotonetes flexíveis.
Espanto incomum, nunca antes experimentado.
Fora dito um grosseiro palavrão da mais absurda forma possível.
"Por quê?, indagava a vítima com os olhos arregalados de vida e indignação em dimensões que jamais sentira.
O agressor a olhava calmamente e não obtendo resposta se juntou à massa de transeuntes sem o recíproco "bom dia".

domingo, 11 de abril de 2010

Melão

Ai como eu queria que você me desse melão na boca
Um dia nublado
Debaixo de uma árvore
Com a música do silêncio enfeitando o momento

Quero sentir o suco da fruta madura ser filtrado pelos lábios
Escorrendo os queixos
Sendo refrescado por uma brisa úmida que anuncia chuva
Na pele

Seus dedos tocam o filtro
Como quem sente o açúcar natural com o tato sutil
Sentindo o gosto como se fosse raro
Como se fosse explicável

Um pássaro quebra o silêncio fazendo meus pulmões respirarem assustados com meus segundos esquecidos no tempo
Esquecidos de que a terra gira, de que existe antes e depois

domingo, 17 de janeiro de 2010

Silêncio?

Dizem que o silêncio é a solução.
Dizem que é melhor calar, engolir, não cuspir.
Para onde vão esses escarros grossos e recheados de palavras corrompidas? A bile não consegue digerí-los.
Um dia um monstro verde de palavras atropeladas irá consumir aqueles que as engoliu e vai correr com essas palavras por toda a frágil carne humana, vai corroer todos os sentidos e parir a dor angustiante de fingir o viver.
Um dia. Cada um que engole sentimentos e mostra o silêncio tem o seu.
O silêncio... existe palavra mais doce com tanta contradição?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

mmm

O silêncio da madrugada engoliu as lembranças do movimento da rua. Me dá um aperto. Quero me lembrar mas não consigo.
Prevejo notar alguma coisa estranha e temo tal revelação. Tenho medo. Só queria o abraço de um olhar para poder dormir em paz.