quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Seguraram em meus braços enquanto dormia
Acordei com inchaço e vermelhidão
Torço-me em massagens astrais
Respiro fumaça e dissipo no ar

domingo, 23 de outubro de 2016

Escrever é identificar tempos
Tecer elaborações
Criar mundos

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Para Clark

VAZIO PLENO – ABISMO
POSICIONAMENTOS PERANTE O ABISMO
POSICIONAMENTO EM TUDO O QUE ME É SINGULAR
ANULANDO TODOS OS MEDOS
ESCLARECENDO DEVANEIOS
A REALIDADE

TEMPERADA PELO OLHAR

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Morto-vivo

Estou vivo ou estou morto? Lembro de alguém que não lembro dizer que duvidar de si é um sinal de lucidez. Logo, indagando se estou vivo ou morto estou devaneando ou lúcido? É possível devanear na lucidez? Seria a lucidez um devaneio de si?

Morto-vivo

Estou vivo ou estou morto? Lembro de alguém que não lembro quem dizer que duvidar de si é um sinal de lucidez. Logo, indagando se estou vivo ou morto estou devaneando ou lúcido? É possível devanear na lucidez? Seria a lucidez um devaneio de si?

quinta-feira, 28 de abril de 2016

MINHAS PRECES ESTÃO NAS MINHAS ROUPAS
NO MEU PERFUME
MEUS SAPATOS COM CADARÇOS APERTADOS
PÉS NO CHÃO
EM TRÂNSITO
ANDO ANDO

sexta-feira, 4 de março de 2016

Respiro
Atrás da minha orelha treme
Treme, abre
Esvai
Abre espaço

Vou abrindo espaços
Desfazendo laços
Construindo linhas
Sensível e irritadiço
Menstruação astral

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A boca da janela

Durante o exercício de contemplação do nada, o cigarro na escada. Uma voz, vindo de uma janela do muro de apartamentos a frente. Uma voz chorosa a falar pretensiosamente.

Durante o cigarro, repetido, pigarreado. A voz, de dois andares acima, assinalada por uma luz florescente saindo da janela, a falar. “Eu não tenho pai, eu não tenho mãe. Eu não tenho a quem ligar no natal”. O andar da escada como assento, o vento e o céu aberto, e a voz.

“Você não sabe o que eu passei”, “Nós temos que apoiar um ao outro, nós somos seres humanos”, “A gente não tem que ficar julgando um ao outro”. Uma mistura de percepções a tona, alguma identificação, e um asco maior. Uma fala que busca desjulgar, julgando, cobrando, não pedindo, mas exigindo. Um coitado, tirano disfarçado. Um tirano meu em identificação, um ponto tocado, identificado, e aqui trabalhado em texto. Alguma coisa de identificação há aqui. Algo sendo dito, com abas de percepções cruzadas.

A identificação. A voz. Há algo de um eu ali. Seja em qualquer fragmento, na posse do outro, na projeção de culpa, na cobrança, no apontar por ser apontado, e nesse jogo ridículo que persiste até o enfado. Tem coisa que precisa acumular pra gente perceber que não precisa acumular.

Um asco, uma identificação. Umas no um. Os fragmentos, as elaborações e reelaborações.

Uma vontade de gritar, as vezes. De xingar, de cobrar uma percepção. De, antes de ser essa elaboração, cobrar uma percepção do que há dentro. Mas o que há dentro, primeiro, deve sair. Tem que se sentir.

E tem coisas que doem mesmo, e tem que doer, para não mais doer. A dor é necessária, até para ser subvertida. As dores em diferentes lugares, em diferentes situações. As dores por algumas partes, que podem ser subvertidas. Sempre.

Sempre tem o sim, como também tem o não.

Percepções turvas de algo. Processo, processo. Erros, erros, erros. O erro pode não mais existir, e se existiu, é possível o erro. É possível errar. Inclusive, para não mais errar.

Que tipo de eu não aceita a possibilidade do erro?

Fragmentos, formulações, reformulações. A voz. Possivelmente a voz não aceita o erro, inclusive o próprio. Não aceita que não tem o natal, e que alguém que falava com ela ao telefone, não se dá para ela. A voz quer do outro, vampira no timbre de choro. Quer, e chora.

Um asco, uma identificação. Um processo. A voz.

Outros timbres são possíveis. Outras percepções são possíveis. Mudanças são possíveis. Tudo no presente é possível, apenas no presente.

O vento que passa, o manjericão, a menta ao lado. Tudo perto, quase ao lado do degrau da escada que serve de assento. E a voz a dois andares acima. Sobre o choro, que vem da voz, uma lembrança.


Uma vez, tão só, me sentia só, sem nada, sem mim. E, andando, chorei. Nesse tempo, há algum tempo, outra voz, outro timbre, já me sussurrava outras verdades possíveis. E, nessa hora, um vento passou, de súbito e forte. Chorei mais, pois percebi que havia um eu possível, um eu presente, que sentiu o vento, e que chorou.