segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu anjo grotesco para todo sempre


Tomava café da manhã enquanto minha avó comentava comigo eventualidades. Sentada na frente da TV, estava a rever algumas fotografias velhas que ficam guardadas em envelopes e porta-retratos que estão espalhados pela casa.
De repente, ela se levanta e me mostra uma foto, era de seu casamento. Linda a fotografia, ela parece um anjo enquanto recebe um beijo na testa de meu falecido avô. Então ela me diz que essa é especial e pede para eu analisar a foto. Já havia atentado para um indivíduo estranho atrás da cena celeste que tem o centro da foto.
Um homem com expressão de canastrão a olhar a cena foco. Vovó me contou que aquele homem certa vez disse que ia dar-lhe o primeiro beijo na boca que ela nunca deixara-lhe dar e que ele nunca deu. E ei-lo ali em seu casamento registrado naquela fotografia, a fitar a cena escancarada de sua promessa quebrada.



Pouco tempo depois estive concentrado em apreciar a pilha de fotos que já tinha revisto diversas vezes, quando passa na TV um comercial de aparelho para os dentes. Minha avó brinca dizendo que vai comprar para ela, em seguida ri mostrando sua dentadura. A imagem de anjo ao ver a fotografia de seu casamento ampliou-se e a imortalizou em minha mente como um anjo grotesco, reflexo de todo bicho gente. E tudo isso aconteceu há trinta minutos na memória.

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