quinta-feira, 24 de março de 2011

Pimentões azúis bebê around us

E quando dormir não dá mais jeito?
Antes era só dormir que passava, acordava tudo bem, andava, chegava ao destino e pronto... recomeçava a rotina.
Para ela os dias amanheciam como adormeciam: cansados.
As pessoas não têm obrigações, nem quando se amam. As pessoas só são pobre pessoas e pronto... o destino que às vezes se encarrega de perguntar um "tudo bem?" sincero sem as trivialidades tão recorrentes.
Os mesmos passos, os mesmos ares e trovões. Do nada choveu, mas de verdade, e não a metáfora clichê. Choveu, o céu fechou, tudo turvou.
Os pingos ensopavam a roupa que havia lavado noite passada, mas tinha que chegar no horário senão as pessoas não entenderiam. As máquinas não podem parar.
Andando pelas ruas e percebia a plantação de pimentões azuis que ali sempre estavam e sempre estão a dar de comer para as famílias do vale. Eles são mais de duas dúzias e medem pouco mais de um metro. Sempre a sorrir, sempre a se cumprimentar.
Enquanto andava, suspirava... pensando como seria bom medir pouco mais de um metro e comer aqueles pimentões azuis, fritos com óleo sem gordura trans e quiçá com rodelas de cebolas...
É uma pena.
Andava, já não se lembrava há quanto tempo andava, suas pernas nem dormente estavam mais! "Graças a Deus", suspirava aliviado por ter escutado os conselhos de sua mamãe: "Anda que depois de cinco dias andando você nem lembrará que ainda tem pernas", e assim estava feito, conseguia até sorrir.
Um homenzinho de pouco mais de um metro cruzava seu caminho enquanto carregava uma cesta que esborrotava pimentões azuis, "Puta que pariu", pensou, "não dará tempo eu seguir direto se ele continuar andando", tentou inventar fórmulas nos próximos quatro segundos de como continuar andando em frente sem que tivesse de parar e permitir que o homenzinho seguisse. Não havia jeito. "Ei", gritou, "Sai da frente!", o homenzinho parou e perguntou: "What?!"
AIOJAUGVBAHVJHABGKS SB HNM, ;;;;....
Ele, que já não era ela ou não se sabe o sexo parou e sentiu subir pela agora presente presença de seus pés uma energia queimante percorrendo seu corpo. Sim. A queimação fazia-se sentir em carne viva. As pernas estavam lá. Ele parado parou.
O homenzinho de meio metro, olhando-o começando a entender e segurando a cesta de pimentões, comentou: "Ah, você ainda é criança crescida, que nem Freud definiu com as suas fases orais, anais, priquitais, dedais, unhais, punhais, trivias... whatevia... agora que você só vai começar a diminuir até ficar do meu tamanho e colher pimentões azuis".
Ele, ela ou sei lá, gritou, e o homenzinho só o olhava. Caridoso, a criaturinha de pouco mais de um metro, sorriu e deu-lhe um pimentão, esse, azul bebê, tinha uma etiqueta: "Made in China".
Continua.

Um comentário:

  1. Gabriel, legal ver que vc tem blog! Já estou te seguindo. Seu texto me lembrou um pouco do absurdo de Becket. É interessante. Divulgue mais seus textos, ande mais por outros blogs! Comuniquemo-nos! Abraço!

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